Visita à Associação Casa dos Meninos
Apresentação da Associação Casa dos Meninos
de RODRIGO PEDRO BISCOSKI NUNES – Graduando de Ciencias Sociais Noturno
Proposta de Intervenção educativa proposta na disciplina Estagio p/ Licenciatura 3ºSemestre
Tem sido um prazer colaborar com os/as jovens da ACM uma vez que estamos nos ajudando a debater novas formas de mobilização por transformações na educação, trabalho. Todo o entorno da experiencia com a Associação Casa dos Meninos foi cercado sempre de respeito e um pouco de formalidade, apesar das propostas, tanto do meu trabalho quanto o deles tem sido debruçar-se sobre a informalidade e a horizontalidade das relações de trabalho.
O coletivo da Casa promoveu entre muitos trabalhos, mapeamento de áreas de influencia dos aparelhos públicos, de maneira eficiente e reconhecida não só pela população do bairro como entidades governamentais, como o DIEESE, algumas das Diretorias de Ensino da Prefeitura. Promoveu a distribuição de internet através de oficinas de criação de equipamentos como antenas e roteadores adaptados para este fim. Trata-se de um sistema independente da Casa.
Dependem muito de ajuda técnica para avanço dos projetos. É notável o entrosamento da casa com a comunidade e vice-versa. As portas abertas, a confiança de todos com relação aos integrantes da Casa dos Meninos, assim como a seus convidados. É evidente como o fruto de anos de trabalho deste grupo, do empenho de suas lideranças assim como o compromisso do coletivo em prosseguir com os projetos, são conquistas valiosíssimas para a comunidade, um exemplo a ser seguido sem ressalvas.
A ACM luta para manter-se atuando em três frentes de trabalho, sendo elas a acadêmica, a extensão da associação a comunidade e ao desenvolvimento de tecnologia popular de ação social. Partindo da identificação com estes princípios, busquei colaborar com estes projetos para poder viabilizar uma série de ações conjuntas e fortalecer parcerias na construção de uma cultura de solidariedade no uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) aplicadas à educação de maneira não determinista, provendo informação e comunicação, ao contrário do que tem se realizado nas instituições formais de ensino com as quais tive contato.
Projeto de Intervenção Educativa – Estagio III
Breve descrição do local e da situação escolhida:
Espaço amplo que sediou vários projetos e fazes diferentes de diversos grupos que atuam no bairro aproximadamente desde 2008. Antigo Ponto de Cultura que referenciou o bairro a partir dos projetos de integração e apropriação do território, parceria com as escolas da região, cursos profissionalizantes além do laboratório de informática que serviu ao programa Acessa São Paulo da Prefeitura. A Casa dos Meninos se situa na Rua Yoshimara Minamoto, número 656, dentro do distrito do Jardim São Luis, e no bairro do Jardim Fim de Semana. Local muito arborizado e com vista para a populosa região do M’Boi Mirim, de topografia acidentada e grande concentração de residências.
Descrição do público
Estudantes secundaristas de variadas idades. Com a integração , proporcionará outras relações de ensino-aprendizagem, focando temas a cerca da disciplina de sociologia com referencia ao currículo do ensino médio, ao mesmo tempo que a turma experiencia um novo saber-fazer que envolve novos conhecimento técnico.
Documentação fotográfica e audiovisual
Entrada da EMEF Procópio Ferreira, local onde a Casa dos Meninos mantém relação próxima e realiza diversas oficinas. Nesta visita, presenciei a Feira Cultural de 2013 que trazia os trabalhos de todas as turmas da escola. A Casa dos Meninos foi convidada a contribuir com uma oficina de artes para as crianças de 07 a 10 anos que serviria de mote para a discussão com os jovens de 11 a 14 anos das outras turmas. Os assuntos permearam a relação entre escola e a região, as preferencias mais comuns dos estudantes como a disciplina de matemática, ou português. Notamos e, em seguida, debatemos o grande interesse em aprender além do que cabe às disciplinas escolares.
Diferentes pontos de vista
Os integrantes da Casa dos Meninos notaram uma diferença de interesse e de participação grande entre as séries da Escola: Na quinta série todos querem participar, na sexta série, menos alunos se interessam, na sétima série menos ainda, e na oitava série estão, conforme disseram, os alunos estão “totalmente cansados”. Afirmam que na oitava série, momento na vida no qual os alunos deviam estar almejando mais liberdade, até pelos conteúdos ensinados, são justamente estes que “não acreditam em nada do que você fala”. Por outro lado avaliam que a quinta série:“está muito no oba-oba também, não quer dizer que estão com o projeto na cabeça. Qualquer ação na comunidade eles iam” . Em conversa com as professoras, muitas perspectivas diferentes surgiram, porém a presença do grupo da Casa dos Meninos era cercada de expectativa e confiança em seus projetos.
Trechos do caderno de campo
Chegamos na escola situada à Av. Fim de Semana, bastante atrasados e eu, particularmente, ansioso e animado para conhecer o publico da oficina. Haviam trabalhos desde artesanato à poesia expostas. Bonecas de lã e tecido inspiradas em uma estória infantil, confeccionadas por costureiras e com ajuda das mães, que pelo que entendi, também eram costureiras. As crianças, aparentemente, eram muito novas para manipularem agulhas e linhas, conforme disse a professora que nos convidou a observar sua banca e assistir sua apresentação. Ao final da conversa foi rapidamente interpelada por um integrante da Casa dos Meninos que acreditava não haver idade para aprender um ofício tão nobre como a costura – “crianças que já falam podem rapidamente aprender a defender-se dos riscos dos objetos pontiagudos”. Porém há de se convir que não seja dos trabalhos mas tranquilos para a realidade das enormes escolas municipais da periferia paulistana.(…)
Objetivos
Tem como fim uma oficina de instalação e administração de servidores de rede para as mais variadas aplicações. Deverão abranger um leque de soluções necessárias a um público como a Associação Casa dos Meninos que por sua vez atende uma grande área com serviços voltados para a cultura digital, acesso à informação e ao conhecimento.
Serão abordados assuntos como a construção do bairro como é conhecido e o que podemos fazer para possibilitar as pessoas se apropriarem do espaço de maneira ampla, ser pertencido pela região e construir uma cultura de solidariedade.
Considerando o uso de tecnologias aplicadas ao aprendizado através da análise sociológica poderemos observar não apenas ferramentas e discursos utilizados como a própria concepção de aprendizado dos participantes. Observaremos um contexto onde o sucesso profissional e individual dos sujeitos pode sofrer diante das condições de funcionamento da instituição escolar, dos excessos disciplinares, métodos conservadores e tradicionais, quando não pela ausência destes serviços, ou de maior qualidade. Por vezes limitada a condução dos aprendizes a uma intensa capacidade de adaptação aos obstáculos técnicos e profissionais, estarão condicionados a trabalharem habilidades e usos de objetos tecnológicos, em geral, eletrônicos e informática.
A capacidade hipertextual que a informação recebe a partir da informatização dos meios de ensino e trabalho, aprendizado, entretenimento ou, em potencia, qualquer esfera da vida social, aponta para novos paradigmas, assim como relacionam-se entre si, criando novas dinâmicas, convergência e divergência em uma nova espacialidade social.
Como instrumento capaz de estender nosso alcance à livros e pessoas, a internet permite nossos sentidos viajarem o mundo em poucos segundos, por diversos caminhos e simultaneamente. Cabe a cada um que se encontra como usuário, cidadão, indivíduo ou coletivo, avaliar o que a conveniência oferecida hoje custa, assim como o que custou e que há de nos custar nos próximos turnos.
O que entendemos por educação, ensino e aprendizado, qualificação ou especialização, todo conjunto de sistemas educacionais, princípios éticos, profissionais, morais, de pessoas a instituições, tudo está sobre forte influencia de outros elementos menos explícitos do que os que já são conhecidos no universo escolar. Este caminho não pode ser mais trilhado sem levar em consideração o papel que tem na trajetória de um aprendiz sua capacidade de adaptar-se, aprender cada vez mais rápido e de maneira ampla, diversas disciplinas e técnicas que se traduzem em muita informação.
Informação e informatização ao mesmo tempo, seu o suporte microeletrônico mundial que não para de se desenvolver. O domínio da técnica não é mais importante do que o saber-fazer, porém aqui embricamos em um debate onde as maneiras de trabalhar a informação, conhecimento, ferramentas e saber são alvos de diversas perspectivas e críticas as mais variadas. Dada a emergência desse cenário, é necessário buscarmos na esfera coletiva do saber, o resultado da socialização do conhecimento, aprimoramento do uso de ferramentas e discursos presentes em formas não-verticalizadas de ensino-aprendizagem.
Relato e análise da Intervenção
O projeto de intervenção pretendeu observar as práticas e discursos a cerca do uso da tecnologia para fins educacionais e mobilização da comunidade expandida no entorno da escola, associações ou instituições de ensino, convencionais ou não. A referencia à Associação Casa dos Meninos foi explicada ao longo do artigo que mapeou a proposta de intervenção educativa que foi elaborada em conjunto com os integrantes do espaço. Uma vez realizado o levantamento dos recursos utilizados pela Associação, os métodos, as ferramentas e os desafios por eles enfrentados, realizamos um debate aberto sobre, levando-se em conta todas as alternativas usadas e quais poderemos usar nos próximos meses, nesta espécie de laboratório de tecnologia popular que se tornou o Jardim São Luiz através da atuação do coletivo Casa dos Meninos.
Autor de “O Modo de Existência dos Objetos Técnicos”, Gilbert Simodon afirmou que informação é o mapa do tesouro que permite encontrá-lo. Um mapa de um Sistema que lhe permite localizar o tal Tesouro do tal Sistema. O ator, agente, protagonista, assim como os objetos técnicos integram um Filo da natureza, chamado pelo autor de natureza das máquinas. Seus valores se relacionam, máquinas e mecanólogos, a partir de um lastro, uma limitação dentre as possibilidades oferecidas pela sociedade para que ambos sobrevivam nesta sociedade. Chama-o de “o modo de existência dos objetos técnicos” que Simodon deixa claro, trata-se de uma limitação intensa e clara na maneira como se manifesta através da cultura, dos ritos profissionais, da técnica e da tecnologia. Cada época contem uma forma de alienação que marca a cultura, e esta forma de alienação presente no horizonte tecnológico em que vivemos nos ultimos 50 anos cobra um protagonismo dos chamados mecanólogos para efetuar a reversão deste processo de alienação cultural. Simodon acredita que sejam os tais mecanólogos os únicos capazes de representar as máquinas diante os produtores da cultura.
No mestrado de Guilherme Flynn vemos como as formações sociais dependem do acesso à informação, ou melhor, acesso ao um processo de “informação”. Este processo de informação e a individuação estão intimamente ligados. A individuação dos seres, humanos ou não, assim como a alienação da técnica (ou da cultura) é acompanhada pela ruptura entre a história e o momento presente onde estão inseridos os objetos técnicos e nós.
Os elementos sociais sofrem transformações em um sentido e velocidades tal que configuram uma tendencia. Podemos compreender da captação desses dados empíricos, mesmo que de maneira limitada, e observar esta tendencia em mediar pessoas e seus aspectos sociais com tecnologia. A reificação dos sujeitos pode domina-lo em sua condição de classe, impedindo seu assujeitamento histórico.
A racionalização da vida não deve ser visto como causa da segregação de classes, ou estaria associada ao individualismo e a discriminação(?). De qual maneira podemos evitar seus aspectos negativos, porém, também necessários à coesão social? Quais deverão ser os rumos da educação de maneira a desenvolvermos a racionalização subversiva?