Imagens e impressões das Manifestações 11/07 – Aymbere
Após participar no dia 11 de julho de duas manifestações organizadas por coletivos e organizações bem distintos, foi possível observar com clareza diferenças e semelhanças entre elas. Nesse breve relato vou me concentrar apenas no aspecto visual das manifestações.
A primeira ocorreu no centro econômico mais importante de São Paulo, a avenida Paulista, e foi organizada por partidos políticos e sindicatos. Chamava a atenção a quantidade de Balões de ar carregando nomes de sindicatos, e a quantidade de carros de som, alguns com espaço para os fotógrafos profissionais.
Os manifestantes se dividiam por blocos (CUT, Força Sindical, CGT, MST, UNE, PCO …), cada qual com uma camiseta própria, o que facilita a identificação dos mesmos e tornava claro que não havia, ou havia muito pouco, interação entre os participantes.
Já a manifestação que pedia a democratização da mídia, promovida por coletivos independentes, e que contou com o apoio de organizações como o MST, ocorreu próxima aos edifícios da maior emissora do país, a Rede Globo, e não contou nem com tanta gente nem com tanto aparato. Entretanto, se pensarmos nessa manifestação como um espaço de auto expressão de sentimentos políticos, e não como uma ação que esperava resultados diretos e imediatos, veremos que ela foi mais bem sucedida que aquela que ocorreu na parte da manha. Podemos entender isso como um reflexo da organização das manifestações, pois enquanto os sindicatos mantiveram uma posição hierárquica, claramente visível se pensarmos nos carro de som onde somente certas pessoas dos sindicatos podiam falar, a manifestação pela democratização da mídia ocorreu de forma mais horizontal, criando um ambiente onde foi possível a participação direta de diferentes participantes, fossem eles coletivos ou indivíduos.
Dentre as formas de expressão utilizadas durante a manifestação pela democratização da mídia, podemos citar os stencils que, ao contrario das caixas de som e outros instrumentos utilizados na primeira manifestação, deixam marcas pela cidade, registrando que ali ocorreu uma manifestação mas também deixando exposto para os desavisados mensagens como “casa de agiotas” (em frente a bancos) e “a democracia começa na mídia”.
É curioso ver também como essas as intervenções feitas com tinta acabaram se misturando com com outras mais velhas, como as realizadas no atos contra o aumento da passagem, gerando um grande mosaico que, por sua vez, exprime uma demanda popular.
Além dos stencils e frases pintadas em muros, houve ainda outras expressões artísticas, como as mascaras (como aquelas feitas para stencil) com frases de efeito e comandos de ordem, como “ocupe a mídia”, que colocadas sobre propagandas dos relógios de rua subvertiam a ideia inicial (promover marcas e mercadorias) para transforma-la em um canal de arte ativista.
Porém, não há dúvidas de que o ápice da noite tenha sido a renomeação da ponte Otávio Frias de Oliveira (fundador do jornal Folha de São Paulo, apoiador do golpe de 64), que passou a se chamar Vladimir Herzog (jornalista torturado e morto por militares durante a ditadura), graças a um grupo de manifestantes que empunhados de uma escada e um adesivo rebatizaram a ponte, substituindo o nome oficial que estava fixado na placa.
Ao alterar o nome da ponte, os manifestantes intervieram em um importante mecanismo de construção da memória histórica, fazendo com que São Paulo se torna-se uma cidade um pouco mais justa, uma vez que é comum a cidade homenagear em seus logradouros personagens históricos ligados a escravidão, como a rodovia dos bandeirantes, ou ditadura militar, como a rua Doutor Sérgio Fleury.
Dessa forma, pudemos perceber que enquanto a manifestação convocada pelos sindicatos, que estão mais próximos ao governo, primava por se organizar de uma forma mais convencional, a manifestação organizada por diversos coletivos utilizava acima de tudo a criatividade, transformando a ida as ruas em uma espécie de experiência artística, que embora deixe um rastro posterior, só pode ser apreciada em sua potência no momento de sua realização.